Medo ou Curiosidade: Qual Força Está Guiando Suas Decisões?
O que líderes e equipes precisam cultivar em tempos de mudança exponencial.
Vivemos tempos acelerados. Inquietos. A sensação é a de que, a cada semana, uma nova ferramenta baseada em inteligência artificial surge para reorganizar como trabalhamos, aprendemos e nos relacionamos com o conhecimento.
E o que sentimos diante disso?
Em muitas conversas com colegas, mentorados e líderes que acompanho, percebo um padrão: medo e entusiasmo convivem lado a lado. É como olhar para uma onda gigante vindo em nossa direção. Parte de nós quer correr. Outra parte sente vontade de pegar uma prancha.
Luis von Ahn, CEO da Duolingo, escreveu no LinkedIn que a IA está criando incerteza para todos — e que temos uma escolha: agir com medo ou com curiosidade. Ela traduz, com simplicidade, um dilema humano profundo: como reagimos ao novo quando ele ameaça nossa zona de conforto?
Este artigo é um convite. Não para negar o medo. Mas para, talvez, não deixar que ele tome o volante.
😨 O medo é compreensível — mas não pode ser o único guia
O medo é uma resposta evolutiva. Ele nos protege. Quando a mudança é grande, nosso cérebro ativa sistemas de alerta: será que vamos perder o emprego? Seremos substituídos? Daremos conta de aprender o necessário?
Essas perguntas são legítimas. Mas quando o medo se instala como estado permanente, ele congela nossa capacidade de pensar com clareza.
Em contextos organizacionais, isso se traduz em frases como:
“Vamos esperar um pouco antes de mexer nisso.”
“Isso ainda não está maduro o suficiente para adotarmos.”
“Não temos perfil técnico para lidar com essa novidade.”
Essas frases podem parecer estratégicas. Mas, em muitos casos, elas mascaram a paralisação por medo.
🔍 Curiosidade é o antídoto da inércia
A curiosidade não elimina o medo. Ela apenas o reposiciona. Ao invés de travar, ela pergunta: “E se...?”
E se eu experimentasse essa nova ferramenta de IA para gerar ideias mais rapidamente? E se eu conseguisse personalizar uma apresentação com menos esforço e mais impacto? E se minha equipe pudesse aprender mais rápido, com mais autonomia?
A curiosidade é a centelha que nos impulsiona a testar, explorar e — mais importante — a aprender.
Cito aqui uma pesquisa de Todd Kashdan (2009), publicada na Oxford Handbook of Positive Psychology, que demonstrou como a curiosidade está fortemente associada à resiliência, criatividade e engajamento no trabalho. Pessoas curiosas, diz ele, são mais adaptáveis ao novo, pois transformam o desconhecido em território fértil para crescimento.
🎯 Exemplos práticos: quando a curiosidade vira estratégia
A Duolingo é um exemplo poderoso. Ao invés de competir com a IA, a empresa decidiu integrá-la de forma estratégica: criou experiências personalizadas de aprendizado, melhorou o atendimento e desenvolveu ferramentas interativas que ampliam a imersão do usuário.
Outro exemplo: recentemente, um de meus mentorados, gestor em uma multinacional, decidiu aplicar IA generativa para agilizar relatórios de lições aprendidas em projetos. O primeiro impulso da equipe foi de rejeição — “isso nunca vai captar as nuances humanas do projeto”, diziam. Mas a curiosidade falou mais alto. Testaram. Refletiram. E hoje a IA está incorporada como apoio inicial, liberando tempo para que os profissionais se dediquem à análise estratégica dos dados.
Curiosidade com propósito é isso: não é deslumbramento, é experimentação com discernimento.
⚖️ O equilíbrio entre curiosidade e responsabilidade
Curiosidade não pode ser confundida com ingenuidade digital. Em tempos de deepfakes, viés algorítmico e uso ético de dados, é essencial que líderes desenvolvam letramento em IA (AI literacy): entender não apenas como usar, mas quando usar, para quê usar e com quais consequências usar.
Como escreveu Gary Marcus em Rebooting AI:
“Precisamos de sistemas que combinem potência computacional com compreensão humana. E para isso, é necessário pensamento crítico aliado à curiosidade disciplinada.”
💬 Três perguntas que você pode começar a fazer com sua equipe hoje:
O que a IA pode nos ajudar a fazer melhor, sem comprometer nossos valores?
Que tarefas repetitivas poderíamos automatizar, ganhando tempo para pensar?
Qual pequeno experimento com IA podemos conduzir nas próximas semanas?
✨ Conclusão: liderar com perguntas, não com certezas
Em um mundo onde o novo é constante, a segurança está na capacidade de aprender — não na ilusão de controle.
Se você é líder, mentor ou agente de transformação, talvez seu maior papel neste momento não seja dar todas as respostas. Mas criar espaços onde perguntas possam florescer. Onde a curiosidade não seja vista como distração, mas como estratégia.
Não se trata de escolher entre medo ou curiosidade como se fossem opostos. Mas de escolher qual deles queremos que seja a força dominante em nossas decisões.